"Ah! Que romântico-sentimentalista sou eu! O que esperava?"
Guerreiro * 25/05/1949.
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Boa noite!
Após esta minhas
férias natalino-carnavalescas prolongadas (somente da coluna já que minha vida particular, profissional e social continuaram normais), retorno.
Aliás um acontecimento
ameno e tranquilo como qualquer outro que haja acontecido com qualquer um de vocês.
Havendo um
contato comercial dia 20 de Dezembro de 2014, diriji-me a cidade de
Santo André.
Lembrava-me de Santo André onde do terreno de "seu" José,
meu amado e saudoso pai, correndo os olhos aos arredores, enxergávamos quilômetros e quilômetros de campos verdes e a
Rodovia Anchieta ao longe, passar quando-em-vez, um
Belair, um
Fusca ou uma
Kombi. Realmente, não conhecia mais Santo André. Assim, pedi a um amigo uma carona, já que iria por lá passar. E,
estupefato, descobri que ainda haviam trens, o que eu já julgara
extinto a muito.E, melhor! Que a poucas centenas de metros de onde eu iria para o encontro comercial, havia uma estação que me levaria de volta ao Brás, em São Paulo.
Minha mente sempre
adolescente, levou-me nas asas do tempo, a uma viajem da velha
Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Imaginei-me adentrando um salão de piso
granito, enormes
lustres circulares com o requinte anglo-saxão e, guichês de madeira de
cedro, envernizados com defesas de
bronze,
impecavelmente polidos. Um funcionário com terno
caqui e chapéu com aquela tira que se não me engano de listra vermelha em fundo preto, sorridente, perguntando quantas passagens queria e para onde.
Depois, sairia por detrás para plataforma em ampla abertura e veria a
locomotiva chegando, esfumaçante, e com o sino
blén, blén avisando a chegada. Iria dirigir-me ao
Condutor, igualmente uniformizado, a quem ofereceria a
passagem e este com aquele
perfurador, perfuraria o ticket, me devolveria, desejando boa viagem.
Aí o condutor sopraria seu velho apito de
metal amarelo, anunciando a partida da composição, tendo eu, já subido os degraus do vagão e sentado na poltrona demarcada no bilhete. Uma poltrona confortável de couro.
Após o apito então a locomotiva começaria a movimentar-se lentamente. tchic, tchic, tchic, tchic e a medida que a composição fosse se movimentando e pegando velocidade o tchic-tchic das rodas iriam tornando-se mais curtos. Aí viriam os tplof-tplof, barulho das rodas nos trilhos desnivelados. E verde, muito verde! Árvores de todo tipo servindo de cerca aos trilhos da ferrovia enquanto o vento traria o
aroma das flores e dos frutos das árvores-cercas durante o trajeto.Até a velha
Estação da Luz onde faria a baldeação para o Brás.
Após o encontro comercial, sequer sei se
corri,
flutuei ou
deslisei aqueles 400 metros que separavam-me da viagem ao passado e deparei-me com uma construção misto de concreto e
eternit,
chamada terminal de ônibus. Perguntei a um cidadão onde era a
estação do trem percebendo um sorriso sarcástico ao apontar-me um buraco no chão com degraus. Desci e fui levado a um corredor sem fim, cheio de banquinhas ou stands de vendas de todo tipo de mercadoria, desde perfumes e roupas, salgadinhos e até o famoso
churrasco Grego.Nossa! Ah! Mas, nada iria separar-me desta
viagem ao passado!
Atravessei a galeria interminável e desemboquei em outra escadaria, desta vez subindo. Para minha decepção ao atravessar a rua que separava as duas construções, deparei com um pequeno salão de concreto com uma bilheteria de vidro onde adquiri um
passe nada parecido com o velho ticket.
Ao fundo enorme porta de vidro com outra escadaria descendente um pequeno corredor, outra escadaria ascendente(se era para subir,para que descer novamente?) e uma plataforma.
Apesar da
decepção inicial aguardei ansioso a composição que chegou silenciosa, e sons anunciavam a abertura e fechamento das portas. Nada de sino! Dentro dos vagões, mais parecia um ônibus suburbano, bancos de plástico posicionados e vidraças lacradas para funcionamento do ar condicionado muito propícia para diagnósticos a gosto da
Médica cubana: virose bacteriana. (Ué! Foi o vírus que já chegou infectado por uma bactéria ou, foi uma bactéria que chegou infectada por um vírus? Que aberração científica! Viva o Mais médicos). E, no trajeto, nenhum túnel encravado em uma montanha ou morro com dinamite, picaretas, pás e enxadas e muito suor com os musgos descendo das pedras sob a iluminação incandescente com todo o charme do toque Europeu. Não! A composição mais parecia um cortejo de bondes acoplados, acompanhando o féretro do meu velho trem! Ao invés das frondosas árvores, favelas plantadas por nossos políticos desde 1986, compunham a cerca da ferrovia dos dois lados.Ao invés das copas das árvores, caixas d'água de fibro cimento, a mostrar o escárnio em que vive o meu Povo!
Ah!Que romântico-sentimentalista sou eu! O que esperava? Que o Mundo houvesse parado ao meu redor?
Ainda assim, desembarquei feliz neste meu encontro com uma ferrovia. Com meu passado.
Afinal, de sonhos e ilusões também se vive...
Ora, bolas!