Um pai
vale mais do que uma centena de mestres-escola."
(George Herbert * 03 de abril 1593 + 01
de março de 1633).
Sábio é o
pai que conhece o seu próprio filho.
(Wiliam Shakespeare * 26 de abril de
1564 + 23 de abril de 1616).
“O caráter pode se manifestar nos
grandes momentos, mas ele é formado nos pequenos. Um Pai constrói Homens."
(Phillips Brooks
* 13 de janeiro de 1835 + 23 janeiro de 1893).
“Comporta-te com teus pais como pretendes que teus filhos
se comportem contigo. (Giacomo Leopardi
*29 de junho de 1798 + 14 junho de 1837).
Bom dia!
Já tenho
dito que quando faltarem às funções de meu corpo, meu cérebro vai continuar
funcionando.
Será o
último órgão a parar em meu corpo.
A coisa
mais remota que lembro em minha vida que posso contar: uma criança pouco mais
que um bebê, com uma camisa branca de linho, uma calça azul clara com um suspensório
do mesmo tecido, preso à calça na parte traseira da calça do lado direito,
passando pelo ombro esquerdo abotoado com um botão branco. Tenho outra anterior
mas, ninguém acreditaria.
Uma área
de fundos, de cimento queimado do casarão, onde iniciava uma passarela de pedra,
dividindo geometricamente o terreno, arborizado com árvores frutíferas, ao meio
e que terminava ao fundo em uma pequena construção, moradia de meu avô.
Um homem
de mãos hábeis entalhava uma cadeira alta para o filho caçula (eu) que estava
abandonando a situação de bebê e precisava sentar-se à mesa com a família. Duas
vezes o homem advertiu:
- “Não,
nenê.” (Porque eu, o “nenê” insistia de tentar fazer na pedra da passarela o
que ele fazia na madeira e, empunhando seu precioso formão Solinger na mão
esquerda e o martelo na mão direita, encostei seu formão na pedra e já ia bater
com o martelo quando fui impedido por uma bela palmada no popó, do lado direto).
Ainda sinto a palmada!
Nunca
mais tive que ser repreendido. Ali, naquele momento aprendi a respeitar aquele
que viria a ser o único ídolo que tive na vida. O "Seu Zé", o meu pai.
Um homem
de estatura mediana, extremamente forte, quanto um pai amoroso. Extremamente
amoroso.
Um marido
correto, um genro de respeito. Um verdadeiro orgulho para os filhos. Um homem
de voz grave, mas, extremamente educado embora seu ramo rude de atividade.
Palavras firmes.
Autodidata,
sempre o lembro, a noite, recostado a cabeceira de sua cama com um bom livro, à
luz do abajur de cabeceira e, aqueles óculos de estrutura marrom pesada.
Sabia de
cor todas as capitais dos países do Mundo, incluindo as dos 135 países que
formavam a cortina de ferro. E seus costumes!
E aquele
homem extrovertido e alegre, sempre brincando, sustentou com a força de seu
trabalho, mulher, seis filhos, sogro e sogra, uma sobrinha que um irmão, (meu
tio destrambelhado) mandou do Paraná para ser criada por ele e, ainda, ajudava
uma tia minha, viúva que tinha dois filhos.
Por isso,
foi muito estranho para mim, quando tinha sete para oito anos de idade sua
mudança. Aquele cujos olhos expandiam amor quando olhava sua prole, aquele
homem brincalhão e extrovertido, calou-se.
Chegava
do serviço ao final da tarde tarde, se preparava para o jantar, sentava-se a
mesa com a família jantava e sentava em sua poltrona na sala, calado, olhando a
televisão como se visse através e além dela. Dias, meses anos a fio. Soubemos que
tinha uma doença no fígado. Depois que possuía uma úlcera no duodeno, Depois outros
problemas.
E
suportou calado enquanto seus filhos estudavam, e cresciam, e obtinham o
primeiro emprego. Casavam-se e, partiam, cada qual cuidando de sua própria
vida.
Lembro-me
que quando o "Seu" João, o dono da padaria que nos servia adoeceu (Câncer
na época era uma doença que repugnava e apavorava mais que a tuberculose) e os
fregueses da padaria começaram a abandoná-la, muitos voltaram pela insistência de
meu pai continuar sendo freguês e quando D. Alice, minha mãe, o questionava,
ele respondia:
-
"Ele nos serviu 20 anos enquanto tinha saúde. Agora ele precisa de nós.
Ainda que eu seja o último freguês".
Estranhamente,
pelo respeito que gozava na comunidade, muitos vizinhos, ainda com medo,
voltaram a comprar na padaria. Nesse tempo Oswaldo, filho do “seu” João,
estudava advocacia.
Viria
mais tarde ser vereador Oswaldo De Rosis, Presidente da A. A. Portuguesa,
presidente da Câmara Municipal de Santos e pai do Jogador Rui De Rosis, do
Santos F.C. e do C. Atlético Mineiro.
Assim,
cresci sempre ouvindo uma palavra de sabedoria. Já tinha me acostumara com esse
novo perfil de só falar o estritamente necessário. Estudei, obtive um emprego
sólido, casei e, logo no início do casamento quando todas as dúvidas e
incertezas caiam sobre mim, aquele homem
que fazia encomenda de um caminhão de material de construção com um papel amassado
e, escrito e assinado a lápis, caiu de cama para não mais levantar-se.
Sua
missão estava cumprida!
Lembro-me
do Dr. Alberto Pessoa, autoridade em
oncologia à época, contar-me que, ao ser comunicado de seu estado e sua
internação imediata e incontinente, pediu vinte dias ao médico para encerrar
seu último contrato porque o cliente não tinha culpa daquilo que ele já sabia.
Entregou o serviço, apresentou-se ao médico e jamais retornou do Hospital.
Tomamos
conhecimento, então, que o Câncer há anos, silenciosamente, corroia-o dia-a-dia.
O que lhe dava forças: a determinação de
acabar sua obra. A criação dos filhos menores.
Aí
entendi o seu silêncio de muitos anos antes.
Por isso
todos se espantavam em seu velório, naquela tarde chuvosa de 12 de janeiro de
1972, pois ainda assim recebia as visitas com um sorriso estampado no rosto,
que a dor, a doença, tampouco a morte conseguiram arrancar. O sorriso da
vitória. O descanso justo do Guerreiro (ele, o verdadeiro, não eu) após a
certeza do dever cumprido.
D. Alice,
minha mãe, lúcida, pouco tempo antes de falecer, disse-me ser impossível
lembrar-me da calça azul de suspensório porque ela mesma a fez, em sua máquina
Noiva e, eu tinha aproximadamente 02 anos de idade. Calei-me. D. Alice se assustaria
se eu contasse de muitas outras lembranças desse e de outros tempos.
Houvesse
espaço e tempo poderia escrever milhares de recordações, dos atos de caráter,
da dignidade e, da hombridade de "Seu ZÉ", meu único ídolo. Poderia ficar aqui, infinitamente
contando. Já que não posso, tampouco vocês, deixo-os, registrado o meu
respeito, a minha saudade (Ah! "Seu Zezinho" Quanta saudade!) e o homenageio
em nome de todos os pais com
responsabilidades de pai, caráter de pai e, deveres de Pai.
Para
esses, REPLETO E FELIZ DIA DOS PAIS!
Bendita
palmada! Pudera estar aqui para dar novas palmadas toda vez eu merecesse!
Ora, bolas!
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